Parque Nacional da Peneda-Gerês

O Parque Nacional da Peneda-Gerês, com  69.594,48 ha, estende-se dos planaltos da Mourela ao de Castro Laboreiro incluindo as serras da Peneda, Soajo, Amarela e Gerês. Trata-se duma região montanhosa, essencialmente granítica em cujas zonas de elevada altitude são visíveis os efeitos da última glaciação. Vales profundos e encaixados suportam uma densa rede hidrográfica que possibilita uma grande variedade de formas de vida e de vivências.

Notável diversidade botânica – bosques, matos, vegetação ripícola e turfeiras para além de matos húmidos – destacando-se a presença de várias espécies raras e endémicas. Alberga alguns dos mais importantes carvalhais de Portugal. Interessantes habitats seminaturais. Diversidade de espécies faunísticas com estatutos diferenciados: endémicas (salamandra-lusitânica); ameaçadas (lobo-ibérico, cabra-montês); de distribuição limitada (cartaxo-nortenho)… No mosaico agrícola destacam-se os prados de lima e lameiros.

Este, que é o único parque nacional em Portugal, possui ainda um rico património histórico-cultural que inclui necrópoles megalíticas, vestígios da romanização, castelos, espigueiros tradicionais com maçarocas de milho, velhos fornos, moinhos de água, levadas, socalcos, brandas (onde as populações passavam o verão), inverneiras (onde aguentavam o rude inverno), termas, tradições peculiares… A tudo isto acresce a curiosa implantação das aldeias serranas e a presença de núcleos de arquitetura tradicional bem preservados.

A Natureza no PNPG

Com grande expressão, os carvalhais ocupam parte dos vales dos rios Ramiscal, Peneda, Gerês e Beredo, sendo dominados pelos carvalhos negral (Quercus pyrenaica) e alvarinho (Q. robur). A menor altitude e vertentes mais expostas ao sol destacam-se, pela abundância, o carvalho-alvarinho, o sobreiro (Q. suber), a gilbardeira (Ruscus aculeatus), o padreiro (Acer pseudoplatanus) e o azereiro (Prunus lusitanica ssp. lusitanica). Nos de características mais atlânticas, dominam os carvalhos alvarinho e negral, acompanhados pelo arando (Vaccinium myrtillus), medronheiro (Arbutus unedo), azevinho (Ilex aquifolium) e satirião-macho (Orchis mascula). A maior altitude há manchas florestais dominadas por carvalho-negral.

Matos de substituição, piornais, urzais, carquejais, tojais e giestais, em antigas áreas de carvalhal. Os matos dominantes são: os tojais, com tojo-molar (Ulex minor) e tojo-arnal (U. europaeus); os urzais, dominados por queiró (Erica umbellata) e torga (Calluna vulgaris), aparecendo plantas como um alho-bravo (Allium scorzonerifolium), uma arméria (Armeria humilis ssp. humilis), o lírio-do-gerês (Iris boissieri) e um narciso (Narcissus rupicola); os matos de altitude, com zimbro-rasteiro (Juniperus communis ssp alpina) e urgueira (Erica australis); e os matos higrófilos compostos por margariça (Erica tetralix), lameirinha (Erica ciliaris), tojo-molar, a carnívora orvalhinha (Drosera rotundifolia), uma pinguícola (Pinguicula lusitanica), a violeta-de-água (Viola palustris), a junça-do-algodão (Eriophorum angustifolium) e a gramínea Molinia caerulea, entre outras.

A vegetação ribeirinha merece destaque, não só pelas plantas que engloba mas também pelo importante papel que desempenha na estabilização das margens dos cursos de água, onde a elevada velocidade da água está associada a forte poder erosivo. Nos cursos de água ocorrem várias plantas consideradas como merecedoras de especial proteção, tais como o feto-de-botão (Woodwardia radicans), o salgueiro-anão (Salix repens), o vidoeiro (Betula pubescens), a grinalda (Spiraea hypericifolia ssp. obovata), a erva-das-feiticeiras (Circea lutetiana subsp. lutetiana) e angélicas (Angelica spp.). Presença do amieiro (Alnus glutinosa), do freixo-de-folhas-estreitas (Fraxinus angustifolia) e do teixo (Taxus baccata).

Entre as plantas aromáticas e medicinais contam-se o hipericão-do-gerês (Hypericum androsaemum), a milfurada (H. perforatum), a betónica-bastarda (Melittis melissophyllum), a uva-do-monte (Vaccinium myrtillus), a carqueja (Pterospartum tridentatum), a erva-de-são-roberto (Geranium robertianum), a madressilva-das-boticas (Lonicera periclymenum), a milfolhada ou mil-em-rama (Achillea millefolium), a violeta-brava (Viola riviniana), o medronheiro (Arbutus unedo), o poejo (Mentha pulegium) e o pilriteiro ou escalheiro (Crataegus monogyna). Algumas destas plantas estão a sofrer com a colheita não ordenada no meio natural.

O lírio-do-gerês ou lírio-da-serra (Iris boissieri) está criticamente em perigo, devido a uma colheita indiscriminada, que coloca em causa a sobrevivência da espécie. Esta planta bolbosa é um endemismo ibérico, i. e. apenas existe na Península Ibérica. Surge em solos pedregosos e em fendas de rochas, sendo muito comum nos matos de altitude da serra do Gerês. As suas atrativas flores de cor violeta e amarela, contrastam com as cores agrestes do seu habitat.

Cerca de 1200 espécies pertencentes a 9 grupos. Pela sua importância em termos de conservação destacam-se duas espécies de borboletas, a fritilária-dos-lameiros (Euphydryas aurinia) e Callimorpha quadripunctaria, 2 escaravelhos, a vaca-loura (Lucanus cervus) e um longicórnio (Cerambyx cerdo), e uma lesma (Geomalacus maculosus). A vaca-loura é o maior escaravelho de Portugal e um dos maiores insetos da Europa, podendo os machos atingir os 8 cm de comprimento. Tem cor castanha avermelhada e acentuado dimorfismo sexual (i. e. machos e fêmeas têm aspeto diferente), sendo a cabeça e as mandíbulas do macho muito maiores do que as da fêmea e usadas para a defesa de território. As larvas alimentam-se de madeira em decomposição.

Nos cursos de água de montanha e de planalto foram inventariadas 5 espécies de peixes autóctones, sendo a mais abundante e característica a truta-comum (Salmo trutta fario). As restantes são a migradora enguia-europeia (Anguilla anguilla) com estatuto de comercialmente ameaçada, o barbo-comum (Luciobarbus bocagei), a panjorca (Achondrostoma arcasii) e a boga-do-norte (Pseudochondrostoma duriense).

Dado ser uma zona com bastante humidade aqui existem vários anfíbios como a salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica), a salamandra-de-pintas-amarelas (Salamandra salamandra), o tritão-de-ventre-laranja (Lissotriton boscai), o tritão-palmado (L. helveticus), o tritão-marmoreado (Triturus marmoratus), o sapo-parteiro-comum (Alytes obstetricans), a rã-de-focinho-pontiagudo (Discoglossus galganoi), o sapo-de-unha-negra (Pelobates cultripes), o sapo-comum (Bufo bufo), o sapo-corredor (Epidalea calamita), a rela-comum (Hyla arborea), a rã-ibérica (Rana iberica) e a rã-verde (Pelophylax perezi).

Nos répteis estão presentes cágado-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis), cágado-comum (Mauremys leprosa), osga (Tarentola mauritanica), licranço (Anguis fragilis), cobra-cega (Blanus cinereus), sardão (Timon lepidus), lagarto-de-água (Lacerta schreiberi), lagartixa-de-bocage (Podarcis bocagei), lagartixa-ibérica (P. hispanica), lagartixa-do-mato (Psammodromus algirus), cobra-de-pernas-pentadáctila (Chalcides bedriagai), cobra-de-pernas-tridáctila (C. striatus), cobra-lisa-europeia (Coronella austriaca), cobra-lisa-meridional (C. girondica), cobra-de-escada (Rhinechis scalaris), cobra-rateira (Malpolon monspessulanus), cobra-de-água-viperina (Natrix maura), cobra-de-água-de-colar (Natrix natrix), víbora-cornuda (Vipera latastei) e víbora-de-seoane (V. seoanei).

Cerca de 170 espécies (residentes, estivais, invernantes e ocasionais),  sendo de destacar o planalto da Mourela para a observação de aves. Pela reduzida distribuição em Portugal ou estatuto de conservação destacam-se a águia-real (Aquila chrysaetos), a gralha-de-bico-vermelho (Pyrrhocorax pyrrhocorax), o bufo-real (Bubo bubo), o tartaranhão-cinzento (Circus cyaneus), o falcão-abelheiro (Pernis apivorus), a narceja (Gallinago gallinago), o picanço-de-dorso-ruivo (Lanius collurio), a escrevedeira-amarela (Emberiza citrinella), toutinegra-das-figueiras (Sylvia borin) e o cartaxo-nortenho (Saxicola rubetra). Entre outras espécies conta-se o melro-d’água (Cinclus cinclus), o tartaranhão-caçador (Circus pygargus), o açor (Accipiter gentilis), o cuco (Cuculus canorus), noitibó-cinzento (Caprimulgus europaeus), andorinhão-pálido (Apus pallidus), melro-das-rochas (Monticola saxatilis), corvo (Corvus corax), cruza-bico (Loxia curvirostra) e o dom-fafe (Pyrrhula pyrrhula).

Depois de mais de um século, a cabra-montês (Capra pyrenaica) regressou beneficiando de um projeto galego de reintrodução. Destaque para o corço (Capreolus capreolus), emblema do parque, o lobo (Canis lupus), a marta (Martes martes), o arminho (Mustela erminea), o gato-bravo (Felis silvestris), a lontra (Lutra lutra), a toupeira-de-água (Galemys pirenaicus), o musaranho-de-água (Neomys anomalus), estes 3 com hábitos semiaquáticos, o musaranho-de-dentes-vermelhos (Sorex granarius) e o esquilo-vermelho (Sciurus vulgaris). 15 espécies de morcegos, incluindo o criticamente em perigo morcego-de-ferradura-mediterrânico (Rhinolophus euryale), o morcego-de-ferradura-grande (R. ferrumequinum), o morcego-de-ferradura-pequeno (R. hipposideros), o vulnerável morcego-rato-grande (Myotis myotis), o morcego-lanudo (Myotis emarginatus), o morcego-negro (Barbastella barbastellus) e o morcego-arborícola-pequeno (Nyctalus leisleri).

O logótipo do Parque Nacional da Peneda-Gerês apresenta um corço (Capreolus capreolus). Este é um cervídeo de pequeno porte, de coloração acastanhada no verão e acinzentada no inverno, com uma mancha branca posterior (denominada escudo anal) em forma de coração na fêmea e reniforme (i. e. em forma de rim) no macho. O macho apresenta pequenas hastes, cilíndricas e pontiagudas, que caem no outono. As crias até aos seis meses são castanhas com manchas esbranquiçadas. Pode medir 1,2 m de comprimento, 70 cm de altura e pesar 30 kg.

Como chegar

A entrada no Parque Nacional pode ser feita via:

– Lamas de Mouro, a partir de Melgaço, pela EN 202;

– Mezio, a partir de Arcos de Valdevez, pela EN 202;

– Entre Ambos-os-Rios, a partir de Ponte da Barca, pela EN 203;

– Covide, vindo de Terras de Bouro, pela EN 307;

– Rio Caldo, vindo de Braga ou Amares pela ER205-5

Rio Caldo, vindo de Braga ou Vieira do Minho pela EN 304;

– Fafião, vindo de Salamonde, pela EN 103;

– Paradela, vindo de Venda Nova, pela EN 308-4;

– Sezelhe, vindo de Montalegre, pela EN 308.

Outras entradas – Ameijoeira, Lindoso, Portela do Homem ou Tourém (vindo de Espanha).

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Texto: Natural.pt